Não
sei quem criou a célebre frase “toda panela tem sua tampa”, mas provavelmente
ela é dita e repetida desde que minha avó procurava uma tampa pra panela dela.
E ela achou. Meu avô vem tampando a panela de minha avó há mais de 50 anos,
porém, isso não vem ao caso, até porque pensar nisso me fez imaginar meu avô “tampando
a panela” da minha avó, e não é uma cena que eu gostaria de ver, nem de ficar
imaginando, mas enfim, a questão é que se os animaizinhos subiram na arca de
dois em dois, todo mundo espera alguma coisa de um sábado à noite, e isso se
trata da carne e da unha, da alma gêmea, das metades da laranja e de todas as
outras duplas que são consideradas inseparáveis.
Será
que toda panela tem sua tampa? Será que todo pé cansado tem mesmo o seu chinelo
velho? E no tamanho certo? Sim, porque sempre vi minha mãe colocando pratos em
cima das panelas depois que as tampas se perdiam, e o meu pai sempre gostou de
calçar minhas havaianas (que são dois números menores) quando não achava as
dele. Já pensou se meu pai não encontrasse minha mãe e quisesse beijar minha
namorada? Isso me faz sentir gratidão porque ainda não tenho tampa pra minha
panela, pois assim não consegui sequer imaginar a cena medonha do meu pai “tampando”
a panela da minha namorada, ou vice versa. Argh!
Acreditar
que existe uma tampa pra nossa panela ou que nós somos a tampa da panela de
alguém é reconfortante, mas, cá entre nós, ser uma frigideira também não é tão ruim.
Eu adoro farofa de ovo! E embora eu não queira ser frigideira (e ter que fritar
os ovos dos outros), eu acredito que independente da panela estar tampada ou
não, nós podemos fazer uma comida boa, ou dar um jeito pra resolver a situação.
Por exemplo, a ideia de minha mãe, que coloca um prato em cima da panela, é
bacana, e impede que entrem moscas ou caia sujeira. E neste caso cabe o ditado “antes
só do que mal acompanhado”, ou no caso de algumas pessoas “não sou feliz, mas
sou casado (a)”.
Eu
já vi gente esquentar arroz na cuscuzeira, e já vi gente aquecer pão dormido na
frigideira – vale ressaltar que fica uma delícia, porque quem faz isso sou eu!
Enfim, tampar panelas não é a tarefa mais difícil, o chato é ter que conviver
com a tampa que escorrega por não se encaixar bem e faz a gente correr o risco
de se queimar no fogão ou comer uma comida ruim – o que é melhor do que nada na
hora da fome!
Bem,
se eu for esticar mais as minhas palavras, eu farei inúmeras analogias aqui,
não só sobre as panelas e suas tampas, mas também sobre os chinelos velhos e os
pés cansados, ou as camisas e os botões, ou as canetas e os papéis, mas
enquanto eu perco meu tempo aqui fazendo analogias, pode ser que a tampa da
minha panela queira puxar conversa e eu não dê atenção porque estou muito
focado em escrever um texto bacana que diga às frigideiras que a Tramontina já
criou tampas especiais para elas e acabe tendo que comer omelete (sem as tampas
da Tramontina) e ainda perca a chance de comer um assado de panela feito numa boa
panela de pressão.
Independente
de tampas, meu avô sempre diz, “panela velha é que faz comida boa”.
Será?