O tempo é uma coisa muito louca.
Nem sei se o tempo chega a ser mesmo uma coisa, concreta. Porque o tempo é
abstrato. Foi dividido não sei por quem em horas, dias, semanas, meses, anos,
décadas, séculos e milênios.
Tem vezes que o tempo falta, tem
vezes que ele sobra. Acho que ele é primo do dinheiro, a diferença é que o
dinheiro a gente toca – tem vezes que o dinheiro falta, tem vezes que o
dinheiro sobra. E a gente corre muito atrás do tempo, assim como corremos atrás
de dinheiro. Mas quanto ao tempo, uns torcem pra ele passar, outros têm medo
dos passos que o tempo dá.
Ah, se o dinheiro comprasse o
tempo! Haveria loja de tempo, haveria promoção, e talvez até liquidação.
Liquidação de tempo! Que loucura! Encurtar momentos. Talvez fosse bom quando
tivéssemos que passar por situações que não gostamos, nesse caso a expressão “dar
um tempo” seria usada literalmente, mas talvez evitar certos momentos e
situação não fosse tão bom assim, como é que a gente ia aprender o que só os momentos
indesejados nos ensinam?
Talvez liquidar o tempo seria
algo como cometer um suicídio. Acabar com o tempo da vida. É macabro pensar
nisso. Acho que as lojas de tempo seriam proibidas de promoverem liquidação. Ou
talvez fosse ilícito abrir lojas de tempo – e para o empreendedor de uma loja
desse ramo, quanto tempo ele teria que investir?
A que ponto cheguei: gastando meu
tempo imaginando o que aconteceria se houvesse tempo a venda em prateleiras.
Quanta perda de tempo!
Acho que tempo é necessário, é
vital. Não porque a vida é dividida em tempo, mas porque precisamos de tempo
pra viver e também precisamos de tempo pra morrer.
Tempo é bom pra pensar. E não foi
por acaso que pensei em escrever sobre o tempo. A introspecção precisa de
tempo. E o nosso tempo precisa de introspecção para ser organizado. Pense bem:
uma agenda pra ser preparada, um conflito pra ser digerido, uma ferida pra ser
cicatrizada (inclusive aquelas feridas da alma), um vazio pra ser preenchido.
Tudo isso requer tempo, talvez muito, talvez pouco! Se até o tempo precisa de
tempo, por quê então, nós, meros mortais, seriamos privados da necessidade do
tempo?
Quantas canções e poemas foram
dedicadas a ele? Caetano Veloso compôs “Oração ao Tempo”, Lulu Santos refletiu
sobre “Tempos Modernos”, Renato Russo fez de “Tempo Perdido” um hino para a
juventude... todos! Todos já dedicaram uma música, um verso, um pensamento, ou uma
palavra ao tempo, até quem não é músico ou poeta, até mesmo quem nem tem tanto
tempo já dedicou reflexões de amor e ódio ao tempo.
O mais engraçado, é que por mais
abstrato que o tempo seja, ele aparece. Sim, ele aparece! Os fios de cabelo
branco, as rugas espalham-se no rosto, a voz perde a força, a energia diminui,
a matéria padece. O papel fica amarelado, as paredes ficam sujas, os sonhos
ficam numa gaveta e a fechadura fica enferrujada – talvez alguém abra, daqui a
um tempo.
O bom é saber que o tempo se envelhece,
mas também se renova. E o seu neto pode abrir a gaveta, e olhar suas fotos
velhas, e sorrir da moda da sua juventude, e se inspirar – ou não – com as suas
conquistas, e aproveitar bastante cada segundo da juventude dele até que os
fios de cabelo fiquem brancos.
É um ciclo vicioso. Estamos
presos ao tempo - se é que ele existe.